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Instrutor de Trânsito e cidadão preocupado com o futuro da formação e a educação para o trânsito.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Minas importa modelo linha-dura do Rio

Quase três anos após a implantação da Lei Seca pelo governo federal e diante dos resultados inexpressivos em Minas Gerais no combate à combinação entre álcool e volante, integrantes da cúpula da segurança mineira viajaram até o Rio de Janeiro esta semana para conhecer o projeto fluminense de redução de acidentes, tido como referência no país. Desde o início da Operação Lei Seca no Rio, em março de 2009, 5,2 mil vidas foram poupadas no trânsito. Em Minas, admitem as autoridades, as blitzes são incipientes e as estatísticas mostram que o estado deve acender o sinal de alerta. Nas cidades que compõem o Grande Rio, o total de multas aplicadas a motoristas que afrontam a proibição de beber antes de dirigir já ultrapassa 25 mil. E a lista de famosos flagrados pela fiscalização, aumentada na quarta-feira pelo atacante Adriano, da Roma, mostra que ninguém escapa da caneta e que a chamada “carteirada” não tem lugar. Não por acaso, no ranking de redução de mortes no trânsito, o Rio aparece na primeira posição, enquanto Minas está entre os últimos estados da federação.
A comitiva mineira descobriu no Rio que o aumento da fiscalização está diretamente ligado à redução do total de vítimas nas ruas. O modelo mãos de ferro, com fiscalização ostensiva em pontos estratégicos do Grande Rio, resultou no flagrante de 25.391 motoristas alcoolizados, num período de um ano e nove meses – entre abril de 2009 e dezembro do ano passado. Com isso, o estado liderou o ranking do Ministério da Saúde de redução de mortes no trânsito. Último balanço divulgado pelo governo federal mostra que, no comparativo entre o ano anterior à aplicação da lei e o primeiro ano de sua vigência, houve redução de quase um terço (32,5% menos mortes) no total de vítimas no território fluminense.
Segundo balanço da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais, nos dois primeiros anos de vigência da Lei Seca, entre junho de 2008 e 2010, 3.890 motoristas foram detidos por dirigir alcoolizados no território mineiro. Paralelamente, a redução no total de vítimas foi bem menos significativa. Apesar de estar na lista das 17 unidades federativas que apresentaram queda na quantidade de mortos em acidentes de trânsito, Minas figura entre os últimos colocados, com índice 7,7 vezes menor que o do primeiro lugar, exatamente o Rio de Janeiro: o trânsito mineiro registrou redução de 4,2% no número de mortes, caindo de 3.781, antes da lei, para 3.621.
“Temos um número assustador de mortos no trânsito. Não suportamos mais a quantidade de acidentes. Seguimos o plano nacional para pôr fim a essas mortes, e a orientação do governador Antonio Anastasia é de que seja dada atenção especial a esse tema, como fazemos com crimes violentos. Percebemos, no Rio, que a blitz não é uma atividade repressiva, mas um compromisso de salvar vidas. É tirar da direção pessoas com alto grau de alcoolemia e evitar acidentes. O Rio dá uma lição para o Brasil, e nós vamos aproveitar as experiências bem-sucedidas”, diz o secretário-adjunto da Secretaria de Defesa Social, Genilson Zeferino, que liderou a comissão em visita ao estado vizinho, ocorrida na última quarta-feira.
Interessados em conhecer o projeto de conscientização e fiscalização de trânsito da Secretaria de Governo fluminense, implementado em formato permanente nove meses depois que a lei foi sancionada, os integrantes da comitiva acompanharam uma palestra do coordenador geral da Operação Lei Seca, major Marco Andrade, e ouviu relatos de dois cadeirantes, vítimas da mistura de álcool e direção, que participam da abordagem aos motoristas.
Marcação sobre atacante
À noite, o grupo acompanhou uma blitz montada na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, observando a abordagem dos policiais, o uso do etilômetro, a confecção dos autos de infração e a remoção de veículos apreendidos. Diante do secretário e da comissão mineira, o último a ser autuado em flagrante por desrespeitar a lei foi o atacante Adriano, ex-Flamengo, atualmente na Roma, da Itália. Suspeito de dirigir alcoolizado, ele se recusou a fazer o teste do bafômetro, teve a carteira de habilitação apreendida e foi multado em R$ 957,70, mostrando que a educação dos condutores também é feita à base de canetadas. Como o atleta, outras celebridades já caíram na política de tolerância zero implantada no Rio.
Dois pilares são tidos como essenciais para eficiência da Operação Lei Seca fluminense: a integração entre envolvidos e o caráter permanente das operações. As blitzes são feitas por quatro órgãos (Secretaria de Governo, PM, Detran e Guarda Municipal), cada um na sua área. Um dos pontos que chamam atenção é a participação de 26 cadeirantes, vítimas da violência no trânsito, que relatam suas histórias a outros motoristas. “Isso causa impacto grande nos condutores”, afirma o major Marco Andrade, coordenador do programa.
No Rio, a partir das 22h, diariamente, mas sobretudo nos fins de semana, balões coloridos e agentes uniformizados com os coletes da operação indicam aos motoristas que há etilômetros à vista. São 35 blitzes semanais e sete equipes de fiscalização, com 20 integrantes cada. A fiscalização ocorre nas vias campeãs em acidentes e atropelamentos, assim como em regiões da cidade com maior concentração de bares e restaurantes e grande circulação de pessoas, como a Lapa, a Zona Sul e a Barra da Tijuca. Os agentes também estenderam a fiscalização para os municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, na região metropolitana, e para cidades da Baixada Fluminense. Desde março de 2009, os agentes da Lei Seca fizeram 382.192 testes com os 54 etilômetros disponíveis.
Para tentar escapar das operações, motoristas acessam e abastecem páginas na internet, indicando os locais de blitzes. Ainda assim, até a madrugada de ontem, 403.850 foram abordados nas operações e mais de 66 mil receberam multas por infrações diversas. Desse total, 18.485 motoristas viram os carros ser rebocados e 27.467 tiveram a carteira de habilitação recolhida.

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